Havia muitas pessoas por todos os lados, até onde a vista alcançava.
Elas se moviam sem rumo, atordoadas, em busca de seu destino. O calor era forte
e tornava o ambiente ainda mais impróprio, a visão embaçava e perdia o foco
dentre tantos rostos aflitos. A comunicação como a conhecemos, naquele momento
deixava de existir, e dava lugar a urros, sussurros, gritos... um alarido
ruidoso e tumultuado. Os cheiros se confundiam em meio ao odor de borracha
e aço quente, que se espalhavam e adentravam as narinas, fazendo lembrar que
todos estavam ali por Ele.
Neste caos onde chegamos não haviam
espaços privilegiados nem divisões, todos compartilhavam da mesma angustia da
espera. Negros, brancos, pardos, amarelos, mais abastados ou miseráveis,
crentes ou incrédulos, todos só poderiam esperar n’Ele. Chegamos ao ponto de
agir instintivamente, num nível de perder a racionalidade e nos comportar de
forma semelhante a animais em bandos, manadas descontroladas de seres humanos.
Proteger mulheres, crianças ou idosos era demostração de fraqueza.
No topo da evolução, orgulhosos de
nosso desenvolvimento, com a autoria de feitos fantásticos, não poderíamos
pensar que todo esse progresso nos aprisionaria?!
Nos últimos instantes nem todos
pareciam estar cientes do que aconteceria, mas até os mais distraídos podiam
sentir que algo estava por vir. Ao chegar, Ele foi acometido por centenas de
corpos que se projetavam ao seu encontro, e nos últimos lampejos de consciência
destes humanos, pareciam restar apenas os impulsos de completar sua jornada até
se juntar a Ele. Neste momento a imagem de corpos amontoados uns sobre os
outros, numa forma disforme de um “beholder humano”, com dezenas de olhos e
bocas perdidos numa massa repleta de membros em movimentos relutantes, esboçava
alguns sorrisos, numa loucura que parecia fingir que tudo aquilo era normal...
...eram seis da noite, e a composição do metrô chegava a plataforma da estação
central do Recife.
Kristopher Kim
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